sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Texto dedicado à minha linda e amada @kahFeelix, 
e no seu amor pela Marilyn. 
Duas lindas inspirações para esse texto, 
sem título, e sem pretensões


  Acordou lentamente, sentou-se na beira da cama e tentou se lembrar que dia seria hoje- terça, ou quarta, talvez domingo- como odiava o domingo- mas já não fazia muita diferença, agora todos os dias eram iguais.
  Antes de se levantar fez o sinal da cruz, mais por hábito que por fé.
  Levantou-se a muito custo, desviando das garrafas de bebidas vazias, pontas de cigarro e embalagens de salgadinhos. 


  Há dias não se olhava no espelho. Cabeça e aparência deploráveis. Olhos inchados. Não havia ligações perdidas e nem recados no celular. Na caixa de correios as contas se acumulavam. Ninguém a procurava há dias- melhor assim - pensou. Afastou todas as pessoas mais próximas, por decisão própria- nem foi tão difícil- suspirou. Uns sumiços aqui, outros ali, com o tempo ninguém mais notaria sua ausência. 
  Andou até a sala enrolada no lençol. Sentiu vontade de acender a luz, mas seu olhos já estavam acostumados com a escuridão. E não só eles... 
  A geladeira vazia, como seu estômago. Olhou ao redor da sala, tal qual sua cabeça, uma bagunça. Cantarolou com uma voz rouca, sufocada, o refrão de uma música triste qualquer, talvez um sambinha antigo, esquecido há muito na memória. Sentou-se no chão com uma garrafa de whisky 18 anos que comprara para as visitas, que nunca eram convidadas. Tomou um gole e sentiu a bebida queimar sua garganta lentamente enquanto enumerava mais uma vez todos os motivos: sem emprego, amor próprio, esperança, e agora sem fé.
  Se dirigiu ao seu quarto com a garrafa de bebida em uma das mãos. Com a outra procurava os frascos de remédio. Escolheu um. Abria as drágeas uma a uma. O pó caía no fundo taça de vinho vazia sobre à mesa. Serviu-se de uma dose, suspendeu a taça e brindou com ninguém. Em seu último gesto, levou a taça à boca. Um toque estridente a interrompe, e assustada, a faz derramar o que deveria ser degustado em um único gole desesperado. Havia, do outro lado da linha, uma voz conhecida, mas quase que abafada pelo nervosismo.
  -Alô. Tudo bem. Amanhã, combinado! - e desliga.
 Falando sozinha: -Hoje dormirei mais cedo. Amanhã tenho um compromisso inadiável com a morte. Tenho um enterro para organizar.


  




sábado, 12 de janeiro de 2013

Preguiça


Quando você me deixou, meu bem
Me disse pra ser feliz e passar bem
Quis morrer de ciúme, quase enlouqueci
Mas depois, como era de costume, obedeci
Quando você me quiser rever
Já vai me encontrar refeita, pode crer
Olhos nos olhos, quero ver o que você faz
Ao sentir que sem você eu passo bem demais

(...)
E tantas águas rolaram

Quantos homens me amaram

Bem mais e melhor que você


Chico Buarque - Olhos nos Olhos






  Não havia forças para mais nada. Camila saia de casa para o trabalho, do trabalho para casa, era sua nova rotina. Dois meses, 3 semanas e seis dias sem Léo. Decidiu que três meses seria tempo suficiente para esquecê-lo e 'quebrar o luto'. Sua rotina, desde aquele dia eram cercado de  livros clássicos que nunca tivera paciência de ler, porres solitários regados a muita 'música dor de cotovelo', muito sono e chocolates. 


  Recusava todos os convites de amigos ávidos por sua 'recuperação'. Sentia preguiça de conhecer pessoas, de ouvir as músicas da moda, e também as mesmas cantadas... eram os mesmos caras com rostos diferentes, todas às vezes. Recusava pois também era visível como a tristeza a consumia: Em seu olhar e na postura conformista de quem já perdeu muito na vida., mas que não se importava mais. Ela podia sentir os olhares em todas as partes, padaria, mercado, na rua... Era como se todos soubessem do seu último fracasso amoroso. Sentiam pena? Talvez...



  'Dois meses, 3 semanas e seis dias'. Com uma vodka em uma mão e um cigarro em outra,  tentou contar nos dedos todas suas decepções amorosas. Eram muitas, percebeu que passava da quantidade de dedos. Resolveu então enumerar somente relacionamentos mais sérios, os 'namorados oficiais', houve cinco. Todos complicados. Henrique foi o primeiro. Ela tinha treze anos e ele dezoito, recém completos. Se conheceram em uma dessas festas cafonas de quinze anos. Ele era primo materno de sua prima paterna, e fora escolhido pela mesma para ser seu par na valsa. Sempre achou tudo aquilo brega demais, e fizera até sua mãe a prometer que nunca a faria passar por uma vergonha dessas, mas Catarina era da família, e Henrique era tão bonito, 'tão do terceiro ano', que não pôde recusar o convite. Uma semana depois estavam namorando no sofá de sua casa, debaixo do alhar protetor de seus pais. Quase um ano depois já não se viam mais. Tentou se lembrar com algum esforço de como terminara seu primeiro amor. Não conseguiu. 



  Partiu para o segundo, que aliás, começou logo em seguida. Ela conheceu Paulo na escola. Os dois tinham quatorze anos. Ele era novato em sua classe. Muito bonito, resolveu que ele seria seu, 'de qualquer jeito'. Sem muito esforço, em menos de um mês já eram o novo casal da escola. O namoro corria em segredo, mãos dadas somente no Shopping. Seus pais nunca souberam dos amassos na saída da aula. Durou pouco, Paulo a trocou por Amanda em menos de dois meses. Até hoje ela odeia esse nome.



  Intervalo para relacionamentos. Foi obrigada a estudar em colégio de freiras até o fim dos estudos, afinal seu pai não queria que nada a distraísse do seu futuro, que por ele, seria a medicina. E foi. Até hoje não sabe bem se por amor à profissão ou se por insistência da família.



  Conheceu Mário, 25 anos, em seu primeiro estágio. Contra todos os protestos familiares, aos 19 anos, já estavam morando juntos. Um noivado e dois anos e meio depois, Mário encerrou o compromisso no meio de uma viagem planejada para reaquecer o relacionamento.



  Na mesma semana mudou de emprego e de casa. Alugou um apartamento modesto, próximo ao Centro da cidade. Ali perto havia vários pequenos barzinhos para onde ia com algumas amigas. Foi por intermédio de dessas, que começou a sair com Sérgio, músico, tatuado, e 'livre'- como ele gostava se se apresentar. Entre várias indas e vindas, o rompimento. A vida ao lado de um 'cara de banda' foi divertido por um tempo, mas o seu ciúme não podia ser controlado. Ele terminou de vez por meio de mensagem de voz no celular.



  E teve Léo. Camila sabia que não era a 'oficial', porém sentia-se tal qual pelo tempo de relacionamento- direito por uso capião - brincava. Um ano de pura indefinição, perguntas, dúvidas e insegurança. Léo era personal trainer. Alto, atlético, e seu instrutor na academia. A paquera começou desde que Camila se matriculou para aula de pilates. Loira, alta e com o rosto muito bonito, seu corpo tinha formas mais arredondadas, e isso nunca a incomodou, pois sempre chamou a atenção dos homens. Desde que terminou com Léo, nunca mais fora à academia. Ela queria dar o troco, e não poderia pensar em vingança maior do que ficar linda. A verdade é que ela, agora, queria parecer mais atraente para Léo, embora não confessasse. Então resolveu, amanhã eu me matriculo de novo. E jogada em sua cama, desligou a tevê e dormiu segura de que tudo seria diferente amanhã.



>> Continua>>