quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Mais uma carta


Fortaleza, 30 de julho de 2012.






Oi Pai, tudo bem com você? 


Onde você está? Tem se alimentado direito? Parou de beber? Sente minha falta? Perdeu meu número? Tenho sempre muitas perguntas e nenhuma resposta.

Tentei puxar aqui pela memória, mas nunca te vi chorar. Você sempre tão forte... será que me acharia fraca se pudesse me ver agora chorando sozinha no quarto esperando uma ligação tua? Chorando alto feito criança sem o menor pudor dos vizinhos, como se as minhas dores fossem as maiores do mundo?

Como quando eu era pequenina e caia no chão ralando feio o rosto, joelhos e cotovelos. Lembra? Eu chorava de soluçar e você me dava seu ombro, me dizendo baixinho que tudo ia passar. E sempre passava...

Nos tempos de escola, depois de mais um dia de humilhação dos coleguinhas, eu acordava no dia seguinte com um copo de chocolate no meu criado mudo. Era você me ajudando a dormir mais um pouquinho... Eu fazia um dengo e fingia uma dor qualquer para não ir à escola. E assim, naquele segundo, o meu super pai me protegia do mundo.

Eu queria muito que você pudesse ler essa carta, e quem sabe assim você viria correndo salvar de novo a sua Princesinha que dessa vez ralou feio o coração e agora recolhe os cacos no meio da sala de estar... Pois aquela menininha voltou, toda insegura de novo, e o que ela mais precisava nesse momento era do seu ombro, de você dizendo  novamente, quase que displicentemente, 'Vai passar, você sabe que vai'. E mesmo sabendo que essa dor veio para ficar, eu precisava sentir mais uma vez a segurança que só sua presença me traz.

Na verdade, isso tudo é só um pretexto para te abraçar forte e te pedir para ficar. Te pedir mais uma vez que você não me deixe nunca mais.

E se você viesse... Talvez você resolvesse ficar, talvez não. Eu só preciso que você saiba que aqui tem saudade. Que te amo e ainda te espero para pôr as conversas em dia.






Um braço bem forte em pensamento,
Da sua princesinha, a sua Naná.

3 comentários:

  1. Uma das coisas que é mais lamentável na humanidade é o fato de existir o famoso "Querer não é poder". Pq as vezes oq queremos é tão essencial que nem deveríamos pedir, deveria ser uma obrigação da vida nos providenciar. A carta demonstra muitos sentimentos juntos. Mostra saudade, nostalgia, necessidade, tristeza, preocupação e amor. Haja vista tudo isso, te digo: Continue, mantenha, acredite, alimente e faça por onde. Quem sabe a vida não retribua os pensamentos e os pedidos com algo de bom? Do mais me resta apenas sempre pensar e enviar bons fluídos na sua direção para que talvez quem sabe, te energize e ajude você a transpor sempre cada um desses obstáculos que a vida insiste em colocar na frente da gente! Take care!!! =D

    ResponderExcluir
  2. Minha linda. Tantos sentimentos guardados no mais recôndito do seu ser, você veio aqui e expressou todos eles, tornando-se digna da minha admiração. Sabe, analisando tudo e, apesar de tomar ciência de somente uma parte do todo, considero você corajosa e audaciosa. Olha flor, não são todos os que caem e se levantam nem muito menos os que choram e se expressam dessa forma. Pessoas sensíveis, assim com você, existem, mas são poucas, essas vêem o mundo de outra maneira, beiram, às vezes, o precipício, todavia, esse é o grande segredo... Chegam no limite, olha para baixo, levantam o olhar pro horizonte... nesse ápice renovam suas forças! Creia em si mesma, com o tempo as coisas se ajeitam amor.
    Um beijo carinhoso da Jujuba. ♥

    ResponderExcluir
  3. Não falta de uma dimensão específica, como as grandes dores que se espalham pelo corpo, os vãos entre pais e filhos se transferem de lugar. Às vezes se instauram no vazio do peito, às vezes se acomodam numa falha de lembrança sofrida e, no caso dos poetas, naquela fissura entre o silêncio e a palavra.

    E vai ver que é por isso que a gente escreve tanto. Pra ver o vão, pra perder o medo do vão, pra ter coragem, atravessar o vão e se aproximar de nossos pais.

    No mundo dos e-mails, por que ainda escrever cartas? Acho que pelos mesmos motivos que nos levam a criar poemas. E poemas pedem o olhar dos outros, poemas estreitam vínculos.

    ResponderExcluir

Devaneadores